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sexta-feira, 24 de maio de 2013

O POVOAMENTO DAS TERRAS E SERTÕES DE GUARATINGUETÁ


        A ocupação de terras na vila de Guaratinguetá teve inicio em meados do
século XVII, através das chamadas doações de sesmarias, ou sejam, grandes
extensões de terras doadas àqueles que estivessem em condições de nela se fixar
e dela cuidar, juntamente com família e cabedais. Foi uma das maneiras como se
deu a ocupação de terras no Brasil, principalmente na Capitania de São Paulo,
sem mencionar, é óbvio, outros mecanismos utilizados, como a posse ilegal e a
compra-venda. Sua extensão variava de acordo com a localização e com o
solicitante, medindo, em sua maioria, meia légua, uma légua (6.000 m) ou légua
e meia, pelo sertão (fundos) e pela testada (frente).
No século XVIII, as doações tiveram continuidade, muito embora já não
fosse a única modalidade de adquirir, existindo também a compra e venda.
Algumas sesmarias eram de terras devolutas, outras eram novamente doadas por
falta de confirmação pelo Rei, outras revalidadas pelo mesmo proprietário,
algumas já possuíam posse anterior, ou foram compradas de terceiros, com
expedição de nova Carta de Sesmaria.
Em sua maioria, as terras eram solicitadas por uma petição dirigida ao
capitão-general da Capitania, se valendo da necessidade de estabelecimento em
terras para o cultivo e sustento da família, declarando, para isso, ter cabedais
suficientes. O individuo que recebia a sua Carta de Sesmaria se via obrigado a
medir e confirmá-la num prazo de dois anos, ocorrendo em perda, caso não
cumprisse. Os registros eram feitos em livros próprios do governo da Capitania,
hoje conhecidos como Sesmarias, Patentes e Provisões, com exceção do período
de 1748 a 1765, quando foram registradas em livros da Alfândega da Praça de
Santos, que por sua vez, estava administrativamente vinculada à Capitania do
Rio de Janeiro RELAÇÃO DE ALGUNS SESMEIROS NO SÉCULO XVIII
Até o penúltimo quartel do século XVIII o território da vila de
Guaratinguetá compreendia uma imensa área, abrangendo as vilas de Lorena e
Cunha, e o vale histórico, até as divisas com o Rio de Janeiro, no rio Piraí.
No presente texto, foi considerando apenas as sesmarias doadas nas áreas
correspondentes aos atuais municípios de Roseira, Aparecida e Potim.
AMARO LOBO DE OLIVEIRA (CAPITÃO) - Natural da vila de Taubaté e morador
em Jacareí antes de se mudar para Guaratinguetá, onde possuía terras nos bairros
de Tetequera (1) e Itaguaçu (2). Seu inventário foi realizado na vila de São
Paulo. Era filho do Capitão Manuel Francisco de Escobar
ANTÔNIO DE BASTOS ANTUNES - Natural de Portugal e casado em
Guaratinguetá com Maria Barbosa de Lima, filha de Domingos Machado de
Lima e de s/m Branca Raposo. Recebeu terras na paragem do Itaguaçu, entre os
anos de 1732 e 1752. Faleceu em Guaratinguetá em 1753, onde foi inventariado.
ANTÔNIO DINIZ CHAVES - Recebeu meia légua de terra em quadra no
Itanguassú, dividindo com Antônio de Bastos (Antunes) e Manuel de Carvalho
Moura. Faleceu em Guaratinguetá em 1757, onde foi inventariado. Foi casado
com Isabel Paes de Siqueira, filha de Francisco Lopes de Faria e de s/m.
Margarida Bicudo.
ANTÔNIO DA MOTA PAIS – 1.800 braças de terras de testada e 1.000 de sertão as
quais começavam onde acabava o rocio da vila, correndo para o caminho de
Parati, contestando com as terras de Pedro Álvares de Araújo. Faleceu em 1745
em Guaratinguetá (3). Foi casado com Helena Antunes do Prado, natural de
Pindamonhangaba, filha de Francisco Cunha Preto e de s/m. Maria Rodrigues do
Prado.
ANTÔNIO RAPOSO BARBOSA – Recebeu em 25/09/1736, meia légua de terras de
testada e légua e meia de sertão no lugar chamado o Tanque, caminho geral para a vila de Pindamonhangaba. Falecido em 1758. Foi casado com Maria da Luz de
Lima, filha de Sebastião Machado de Lima e de s/m. Catarina de Almeida.
ANTÔNIO RAPOSO DE LIMA (ALFERES) - Possuía terras no bairro do Itaguaçú
entre os anos de 1720 e 1758. Não foi achado o registro de sua sesmaria. Era
filho de Domingos Machado de Lima e de s/m. Branca Raposo. Foi casado com
Catarina de Almeida do Prado, de quem teve geração. Faleceu em
Guaratinguetá.
DOMINGOS RODRIGUES CORREIA – Terras entre a Serra da Mantiqueira E O
Caminho velho, com meia légua de terra de largo e uma de comprido, que faz
um ribeirão que vem da mesma serra e outro chamado do hubahy, no fim das
terras da Capoeira Grande.
DOMINGOS RODRIGUES FREIRE – Terras da outra banda do rio Paraíba, na
paragem chamada Queimada Grande, com meia légua de testada, finalizando
nas terras ou posse de Manuel de Rezende a intestar com as terras dos
moradores do Potihym (Potim) e daoutra com o ribeirão de Guaratinguetá,
dividindo com Roque Corrêa e Salvador Machado. Era natural da vila de
Castelo Branco, Portugal. Foi casado Inês de Jesus Maria. Faleceu em
Guaratinguetá a 31/12/1800.
FRANCISCO BORGES RODRIGUES – Meia légua de terras em quadra, divisando
com Thomaz Pereira e José Pinto e o sertão até a serra do Quebra Cangalhas,
partindo com Luiz Dias e Miguel de Góis.
FRANCISCO NABO FREIRE (SARGENTO MOR) – Obteve, em 05 de fevereiro de
1742, uma sesmaria com meia légua de terras em quadra na paragem do rio
chamado Paraíba, entre o ribeirão de Potim e o de Amaro Lobo, que vem a
entestar com os morros da Mantiqueira. Foi casado, em segundas núpcias, em
1749, com Maria Pires Bueno, filha do Capitão Miguel de Godói Moreira e de
s/m. Maria Leite de Araújo. Obteve, também, em 20 de outubro de 1736, outra
sesmaria de meia légua de terras em quadra, principiando no paiol das mesmas
terras do suplicante, correndo o sertão para a Mantiqueira, que são matos maninhos, partindo de uma banda com Domingos Soares e de outra parte com
Amaro Lobo (4).
FRANCISCO NABO FREIRE (ALFERES) – Requereu e recebeu em 24/1/1773, em
parceria com Manuel Francisco de Toledo, uns campos nas cabeceiras do
ribeirão chamado Guaratinguetá e de outro que se chama Piaguí, até a serra de
Sapucaí e Tajuba (5), que em outra parte se chama Mantiqueira. Foi casado com
Francisca Xavier de França, irmã do beato Frei Galvão, filhos do Capitão-Mor
Antônio Galvão de França.
FRANCISCO PEREIRA DE CARVALHO – Uma légua de terras em quadra na fralda
da serra dos Guarulhos, entre os dois braços do rio Guaratinguetá, correndo o
rumo das terras de Jerônimo de Siqueira para a parte de um monte chamado
Pedra Branca, que cai para os Pilões. Em conjunto com Miguel de Godói
Moreira. Falceu na vila de Cunha em 1780. Era natural de Paramos, Termo da
Feira, arcebispado do Porto, e casado com Francisca Joaquina de Toledo Silva,
filha de Luiz da Silva Porto e de s/m. Maria de Toledo Cortez (instituidores da
Capela da Boa Vista, em Cunha).
JOÃO ALVES VILELA (PADRE) – Meia légua de terras de testada, nas
sobrequadras de Antônio de Carvalho Marques, dividindo com Antônio da
Costa Chaves (caminho de Parati). Foi durante alguns anos vigário de
Guaratinguetá e autor do relato do aparecimento de Nossa Senhora.
JOÃO ANTUNES FIALHO – um dos abridores do caminho novo para o Rio de
Janeiro. Duas léguas terras, partindo com o Capitão Antônio da Silva e João
Francisco de Castro, na paragem chamada Jararaca. Faleceu na freguesia do
Facão (Cunha) em 1789. É antepassado da família Antunes de Vasconcelos.
LOURENÇO VELHO CABRAL – Uma légua de terras em quadra no Piaguí para a
serra Mantiqueira e cabeceiras no rio Piaguí.
LUIZ DIAS DE ALMEIDA – Légua e meia de testada na parte superior do ribeirão,
acima da ponte da vila, na paragem chamada cachoeira do Mato Dentro,
compradas a Miguel de Góis, João Siqueira, Salvador Duarte, Rita Pais e Manuel Rodrigues da Fonseca, confrontando com terras de Thomaz Pereira,
contestando com a serra da Quebra Cangalhas, com terras de Matias Pires e
Miguel de Góis. Faleceu em 1793 em Guaratinguetá. Era natural de Minas
Gerais.
LUIZ RAMOS BARBAS (PADRE) – Meia légua de terras de testada e légua e meia
de sertão, na sobrequadra do sítio chamado Rocinha e do chamado Moura, em
direção a Parati. MANUEL DE SIQUEIRA CARDOSO – Terras com testada rio
Paraíba abaixo.
MANUEL FRANCISCO DE TOLEDO – Uns campos nas cabeceiras do ribeirão
chamado Guaratinguetá e de outro que se chama Piaguí, até a serra de Sapucaí e
Tajuba, que em outra parte se chama Mantiqueira. Em parceira com o Alferes
Francisco Nabo Freire. Foi inventariado em Guaratinguetá em 1805.
MIGUEL DE GODÓI MOREIRA – Uma légua de terras em quadra na fralda da
serra dos Guarulhos, entre os dois braços do rio Guaratinguetá, correndo o rumo
das terras de Jerônimo de Siqueira para a parte de um monte chamado Pedra
Branca, que cai para os Pilões. Sesmaria em conjunto com Francisco Pereira de
Carvalho. Era filho de Inácio de Godói Moreira e de s/m. Catarina de Unhate de
Medeiros e sogro de Francisco Nabo Freire. Faleceu em Pindamonhangaba a
11/11/1752.
NOTAS
1. Cidade de Roseira.
2. Atual bairro do Itaguassú, no município de Aparecida.
3. Terras na região do atual bairro dos Motas, que recebeu esse nome pelo
apelido de família.
4. Área compreendida entre municípios de Potim e Aparecida, pelos lados da
Mantiqueira, na margem esquerda do rio Paraíba.
5. Atual cidade de Itajubá.


REFERÊNCIAS
Bibliografia
ARQUIVO DO ESTADO DE SÃO PAULO. Sesmarias – 1720-1736. São
Paulo/Edição do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, 1937.
MOURA, Carlos Eugênio Marcondes de. Os Galvão de França no
Povoamento de Santo Antônio de Guaratinguetá. 3. ed. São Paulo, Ed. da
Universidade de São Paulo, 1993.
SECRETARIA DE ESTADO DA CULTURA. Repertório de Sesmarias. São
Paulo, 1994. Ed. fac-similar.
Fontes Primárias
MUSEU FREI GALVÃO/ARQUIVO JUDICIÁRIO. Inventários e
Testamentos do 1º Ofício de Guaratinguetá – 1710-1962.
DESENHO: Paulo Pereira dos Reis, IN: REIS, Paulo Pereira dos. Lorena nos
Séculos XVII e XVIII. Lorena. Fundação Nacional do Tropeirismo/Centro
Educacional Objetivo. p. 229.

apelido de família.
4. Área compreendida entre municípios de Potim e Aparecida, pelos lados da
Mantiqueira, na margem esquerda do rio Paraíba.
5. Atual cidade de Itajubá.