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sexta-feira, 30 de setembro de 2011

TÉCNICAS DE LEITURA: NOMES E ABREVIATURAS EM DOCUMENTOS DOS SÉCULOS XVII E XVIII

Nomes. Repetiam-se grandemente os nomes, ocorriam também muitos casamentos na mesma família, inclusive tios com sobrinhas ou tias com sobrinhos. Torna-se importante qualquer dado extra que possa ajudar a identificar a pessoa, e que acompanha o seu nome. Por esse motivo, na identidade de um indivíduo é importante levar em conta alguns elementos acessórios como::

a) O nome de sua mulher. Mas aqui também não se pode confiar integralmente, pois era frequente casarem-se as pessoas duas vezes, devido ao alto índice de viuvez.

b) Tão importante ou talvez mais importante que a vinculação ao nome de uma mulher, é o nome do lugar onde o indivíduo vivia ou de onde ele era natural. Hoje, devido à facilidade de movimentação de indivíduos e famílias, esse dado parece irrelevante para identidade, e o pesquisador tende a não lhe dar a importância que tinha em épocas antigas.

Desde a antiguidade, o local de nascimento ou moradia da pessoa era com frequência agregado ao nome do indivíduo, para identificá-lo entre outros de mesmo nome. Assim, "Domingos Pereira, morador na Sobreda", vale para toda a vida desse Domingos, uma vez que provavelmente viverá sempre naquela localidade e assim se distinguirá de muitos outros Domingos Pereira. Muitos nomes de lugares incorporaram-se assim ao nome de família dos indivíduos. Esse costume passa da idade média à idade moderna, e vai praticamente desaparecer na época contemporânea.

c) A crença de que alcunhas tenham se tornado nomes de família não parece corresponder à verdade. As alcunhas eram indicadas muito distintamente, e serviam como identificador quando havia muitos nomes iguais no mesmo lugar. Pelo menos nos documentos das Igrejas da Vila de Almada, as alcunhas eram sempre indicadas com muita clareza e não acompanhavam os nomes de filhos e netos. Assim Diogo da Costa, o Camílio, Antônio Vaz, o bengala, etc.

Mudança de nomes. Abandono de um nome da linha paterna por um nome da linha materna pode ocorrer, e isto foi comum em Portugal, à época do domínio espanhol, quando o último sobrenome era o da mãe, e o sobrenome do meio é que era do pai. Erros e má interpretação de funcionários e escrivães também levam à alteração de sobrenomes, como é o caso de uma família italiana que veio de Gênova para o Brasil e cujo sobrenome era Covre; por descuido do funcionário que lhes emitiu documentos brasileiros, teve o sobrenome alterado para Cobra (Os Cobra de Piracicaba, S.P.).

Quando os judeus foram obrigados a adotar a religião católica, desapareceram os Isaac, Jacob, Judas, Salomão, Levi, Abeacar, Benefaçam, etc., e ficaram somente nomes e sobrenomes cristãos. Tomaram nomes vulgares, sem nada que os diferenciasse da maioria dos cristãos velhos, a não ser por vezes a manutenção de algum sobrenome antigo judaico pelo qual o indivíduo era vulgarmente conhecido. Assim aconteceu com Jorge Fernandes Bixorda, Afonso Lopes Sampaio, Henrique Fernandes Abravanel, Duarte Fernandes Palaçano, Duarte Rodrigues Zaboca, etc.

É, portanto, falsa a idéia de que os cristãos novos usavam nomes de árvores como Nogueira, Pereira, Pinheiro Carvalho, etc., para distinguir-se. Estes já eram sobrenomes existentes e pertencentes a própria nobreza de épocas anteriores.

Abreviaturas. A leitura da documentação antiga é tarefa um tanto difícil para o iniciante mas, após algum esforço, vai se tornando cada vez mais fácil. Existem umas poucas regras que facilitam muito a leitura dos documentos mais difíceis. É imprescindível também conhecer de antemão as formas de abreviatura comuns em cada época. São abreviados não somente palavras nos textos do documento como também os nomes das pessoas. Existem livros inteiramente dedicados a este problema.

Alguns nomes e sobrenomes passaram a existir a partir de abreviaturas como por exemplo "Roiz", abreviatura de Rodrigues; Brites, abreviatura de Beatriz; Alves, provável abreviatura de Alvarez, etc.

Os sobrenomes eram frequentemente escritos com a inicial minúscula: oliveira, pereira, etc.

Aqui vão alguns exemplos de abreviaturas extraídas de documentos dos séculos XVII e XVIII:

7bro = setembro 8bro = outubro
Alz' = Alvares Ant.o = Antônio
C.na = Catarina D.a = Dona
d.a V.a = dita Vila Dis = Dias
Diz e Diz (com til sobre o i) = Diniz
d.o, d.a = Dito, dita
D.os, D.as = Domingos, Domingas
D.tor = Doutor de prez.te = presentemente
delegc.as = diligências delig.as = diligências
E. R. M.ce = espera receberá mercê
f.o, f.a = filho, filha
feu.ro, feur.o, Feu.ro = fevereiro
Fon.ca = Fonseca
Fran.co, fran.co, Franc.o, Fr.co, fr.co; Fr.ca = Francisco, Francisca
freg.a ou fg.a = Freguesia
Frr.a, frr.a, Fer.a = Ferreira
Frz', ou frz' = Fernandes
Glz' ou glz' = Gonçalves
Im.o = Jerônimo
impedim.to- = impedimento
in facie ecctiae = in facie ecclesiae
Jan.ro, Janrr.o, Jan.r = janeiro
Jhs'., ihus'., Jhus. = Jesus
Joph. = Joseph ou José
Lxa ou Lixa = Lisboa
l.o., ou legit.o, legit.a, legt.a, leg.ta, leg.ma = legítimo, legítima
M.a = Maria
Mz = Munis ou Martins
M.el = Manuel
m.or, m.ora = morador, moradora
minha lç.a = minha licença
miz.a = Misericórdia
Mnz . = Martins
Montr.o, montr.o = Monteiro
Mrc.o = Março
N. Sr.a
n.al = natural
n.al da V.a = natural da vila
Nascidos de hum ventre = filhos gêmeos
nessec.o = necessário
9bro, Nov.bro = novembro
P. C. = passar carta, dar autorização
p.a = para
P.e = Padre
P.o = Pedro ou Pero
prez.tes = presentes
Prr.a,prr.a, Per.a = Pereira
q' = que
q' Ds'. guarde como des.o. = que Deus o guarde como desejo
ribr.o = Ribeiro
Roiz = Rodrigues
Ryo de Janr.o = Rio de Janeiro
S.er = Senhor
Sagr. Con. trid. e Const.oe(n)s deste Arc. = Sagrado Concílio Tridentino e Constituições deste Arcebispado
SMq'Ds'., SMDs'. = Sua Magestade que Deus guarde
Snra. = Senhora
Supp.te, supp.te = suplicante
Teix.ra., teix.ra., teixr.a = Teixeira
test.as ou t.as = testemunhas
V. Ill.ma e R.ma = Vossa Ilustríssima e Reverendíssima
V.a = Vila
VM, Vm.ce = Você, o Senhor, a Senhora
X = Cris (como em Cristo)
X.er = Xavier

A melhor fonte para socorro do leitor de documentos da nossa história colonial talvez seja ainda o Elucidário das Palavras e Termos e Frases que em Portugal Antigamente se Usaram e que Hoje Regularmente se Ignoram: Obra Indispensável para Entender sem Erro os Documentos Mais Raros e Preciosos que Entre Nós se Conservam. Esta obra de tão extenso título, de autoria do frade franciscano Joaquim de Santa Rosa de Viterbo, veio a público em Portugal em 1798 e 1799, mas foi reeditada, sendo de 1962 a "edição crítica", por Mário Fiuza (Livraria Civilização Porto-Lisboa) a mais facilmente encontrável.

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